quarta-feira, 31 de julho de 2013

QUILOMBOLAS: VIANA É DESTAQUE EM CINEMA DO RIO DE JANEIRO

Documentário “Nem Caroço Nem Casca” mostra o lado doce dos quilombos: seus habitantes
O diretor Will Martins, da Novelo Filmes, percorreu seis comunidades quilombolas do Maranhão para contar sua realidade atual

Em vez de focar no passado, Will decidiu mostrar a vida dos moradores dessas comunidades hoje

O babaçu é uma fruta que cresce no interior do Brasil, entre as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Entre a casca dura e os caroços dos quais se extrai o óleo de babaçu fica o mesocarpo, a parte doce e nutritiva que compõe muitas receitas locais. Assim é também o documentário “Nem Caroço Nem Casca”, longa de estreia do diretor Will Martins sobre seis comunidades quilombolas no interior do Maranhão. “É um filme doce. Não vai no caroço da questão, sobre a história de Zumbi e Palmares, mas também não fica na superfície”, diz ele. O filme, da Novelo Filmes, tem sua pré-estreia hoje no Rio de Janeiro, em uma sessão para convidados no Cine Odeon. Ainda não há data para a exibição em Florianópolis.

Com experiência em filmes etnográficos acumulada em seu tempo na Plural Filmes, Will decidiu buscar caminhos inexplorados quando foi convidado para dirigir o documentário. Ao invés de focar no passado dos quilombolas, ele quis conhecer seu presente. Para isso passou cinco semanas pela estrada que liga seis comunidades nos arredores da cidade de Viana, conhecendo cada uma delas e seus habitantes. “O filme sai do micro para o macro. Pega nuances de cada indivíduo para traçar a situação quilombola atual”, explica.

Cada comunidade apresenta um recorte dessa realidade. Em Cacoal, ele mostra a vida da família Gomes — composta de pai, mãe, três filhos e uma neta. “O ambiente da família deles é diferente. Inclui o afilhado, o vizinho. A concepção de família é coletiva”, conta Will. Em Capoeira, ele mostra a liderança das mulheres, que trabalham como quebradeiras de babaçu enquanto os homens cuidam de casa. Em Mocambo, mostra outra liderança feminina: Severa Mendes, uma senhora de 88 anos que comanda um terreiro de macumba e, de manhã, uma igreja católica. Já Boa fé, o sincretismo religioso foi deixado de lado por uma comunidade inteira que se tornou evangélica.

“Um homem branco que veio contar nossa história”

Will Martins costumava imaginar que seu primeiro longa-metragem seria de ficção. “Mas, querendo ou não, o documentário sempre cruza o meu caminho, e eu nunca disse não para ele”, conta. E o que cruzou seu caminho desta vez não foi um tema simples. “Foi apavorante”, diz ele sobre a experiência. “Mas achei bom sair da minha zona de conforto, porque achei que aí que a magia podia acontecer.”

O segredo do filme talvez seja a entrega. “Levei para onde o coração me dizia para ir, foi muito sensorial”, diz Will. Essa experiência acabou se tornando mais que profissional, mas um grande crescimento pessoal. Das comunidades, o que mais chamou sua atenção — e que ele leva para a tela — é o amor e bom-humor daquelas pessoas. Algo que voltou à tona quando exibiu a eles o corte final do filme, ainda em processo de finalização, em fevereiro. “Foi o dia mais emocionante da minha vida. Eles se viam no filme e choravam, vibraram”, conta Will. No fim, um dos entrevistados — Cordeiro, da família Gomes, de Cacoal, lhe disse: “você veio aqui contar nossa história. E a gente vai contar para os nossos filhos a história de um homem branco que veio contar nossa história. Agora você também é parte da família Gomes.”

(grifo nosso)

Do portal Notícias do Dia
Por
 Carolina Moura
@carolinafm_ND
FLORIANÓPOLIS

terça-feira, 23 de julho de 2013

Hino do Maranhão em Ritmo de Reggae

Cansado de ouvir um montão de baboseiras nos toques dos celulares de algumas pessoas, em especial aqueles forrós que são de dar nojo, lanço abaixo o link onde você poderá baixar o Hino do Maranhão em ritmo de Reggae, e se desejar, fazer como eu, colocá-lo como toque do seu celular. Nossos ouvidos agradecem.


Abraços e uma ótima terça-feira a todos.

Com informações do Blog do Jarivanio (http://www.jarivanio.com/).

Elas, marcadas para morrer

A Pública e o Diário do Pará trazem as histórias de dez mulheres cujas vidas estão ameaçadas por lutarem pelos seus direitos e pela preservação da floresta


Entre 1964 e 2010, ocorreram no Pará 914 assassinatos de trabalhadores rurais, religiosos e advogados por questões de terra

*Por Ismael Machado

Nas diversas placas de sinalização ao longo das rodovias que ligam os municípios do sudeste e do sul do Pará, raras são as que não ostentam marcas de balas. Atirar nas placas pode ser o insuitado passatempo de quem trafega por aquelas estradas, sem maiores consequências. Mas as marcas também sinalizam muito do espírito que sempre marcou a colonização daquela parte do estado, pivô de conflitos agrários, assassinatos de lideranças rurais e número um em índices de desmatamento e trabalho escravo.

Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), ocorreram no estado do Pará, entre 1964 e 2010, 914 assassinatos de trabalhadores rurais, religiosos e advogados por questões de terra. Desse total, 654 ocorreram no sul e sudeste do Pará. “Muitos dos trabalhadores rurais assassinados, não conhecemos os rostos e nem sabemos os seus nomes. Em muitos desses casos a polícia negou o registro das denúncias formalizadas por sindicalistas e familiares das vítimas, e negou também o resgate dos corpos onde foram assassinados”, diz o advogado da CPT em Marabá José Batista Afonso.

A CPT divulgou no início do ano uma lista com o nome de 38 pessoas ameaçadas de morte no sul e sudeste do Pará por causa de sua luta pela posse da terra. Dez são mulheres.

Num dossiê que esmiuça a violência no sul e sudeste do Pará, a CPT avalia a violência que vitimou centenas de trabalhadores rurais, dirigentes sindicais, religiosos, advogados e parlamentares que lutam pela terra e pela reforma agrária, remonta principalmente o governo militar que, no início da década de 1970, começou a investir na ocupação da Amazônia. O sul e sudeste do estado do Pará, região de expressiva concentração de riquezas minerais e naturais, foi talvez onde esse processo se efetivou de maneira mais contundente.

Para explorar as riquezas, o governo construiu estradas, como a Transamazônica, a BR-222, a BR-158, mas construiu também hidrelétricas, como Tucuruí, e estimulou e financiou a implantação de grandes projetos para explorar as riquezas ali existentes, como o Projeto Ferro Carajás. “Ao mesmo tempo incentivou a vinda de grandes empresas e pecuaristas do Centro-Sul do Brasil para investir na criação de gado bovino. Não só concedeu terras, mas créditos subsidiados pela política de incentivos fiscais da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). Esses grupos econômicos, especialmente aqueles que investiram na implantação da pecuária extensiva passaram a expulsar, de forma muito violenta, os povos indígenas e diversos pequenos agricultores que há muito tempo ocupavam da região”, enfatiza o dossiê da CPT.

A novidade da violência atual é que as mulheres estão cada vez mais na linha de tiro, alvo de ameaças. Algumas convivem com essa marca há mais de uma década. Outras começaram a sentir mais recentemente o peso da sina de estarem marcadas para morrer.

Em comum, essas mulheres carregam a consciência da luta que travam; sentem medo, modificaram hábitos, convivem com a incerteza cotidiana. Houve quem decidisse se afastar da luta sindical, com medo das ameaças cada vez mais constantes. Outras permanecem, sabendo ser esse o destino a seguir.

Uma das poucas que conseguiram alguma atenção nacional para o seu périplo foi Laísa Santos Sampaio. Irmã da extrativista Maria do Espírito Santo, assassinada em Nova Ipixuna, a 580 quilômetros de Belém em 2011, Laísa é o “alvo da vez” no município. Ela e o marido, José Maria Gomes Sampaio, o Zé Rondon, estão sendo ameaçados de morte desde o assassinato de Maria e José Cláudio Ribeiro da Silva. Laísa já não dorme tranquilamente e não pode sair de casa sem acompanhamento. A rotina pessoal mudou, desorganizando toda sua família, a relação com os filhos e o trato da lavoura e do extrativismo dentro do seu lote de terra. A Comissão Pastoral da Terra acredita que as ameaças têm sido feitas por pessoas que provavelmente fizeram parte do consórcio de proprietários de terras, madeireiros e carvoeiros que assassinou José e Maria. As ameaças de morte foram registradas na Delegacia de Conflitos Agrários do Sudeste do Pará (DECA). Pouco mudou.

“Não saio mais desacompanhada”, diz Regina Maria Gonçalves Chaves. Regina é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município de Eldorado dos Carajás. No dia 15 de junho de 2012 um grupo de fazendeiros invadiu a sede do Sindicato e a ameaçou diretamente. “Deixaram um recado: estariam com grupos armados à espera de qualquer tentativa de ocupação por parte dos movimentos sociais”, diz ela. Dias depois, pessoas estranhas foram vistas rondando a sede do sindicato e à procura de Regina na casa dos familiares dela.

Em Breu Branco, próximo ao município de Tucuruí, a 480 quilômetros da capital, Graciete Souza Machado convive com uma bala alojada a apenas dois centímetros da coluna vertebral. O alvo era o pai, Francisco Alves de Macedo, líder comunitário que defendia posseiros que ocuparam a fazenda Castanheira. Francisco Alves foi morto por pistoleiros “Eu sou ameaçada de morte desde 2010. Não temos liberdade para sair de casa com nossas crianças. Vivemos totalmente inseguros e com muito medo, pois a qualquer momento, como aconteceu com o meu pai, pode acontecer comigo. Tenho muito medo”, diz ela.

Mudam as personagens, mas as histórias são semelhantes.

“As mulheres se tornaram lideranças que acabaram tomando à frente da luta, muitas vezes são responsáveis pelo sustento da família”, diz a advogada da Comissão Pastoral da Terra, Vânia Maria Santos, 29 anos. Ela atribui a continuidade dos padrões de violência à impunidade. “Da ameaça à concretização é pouca coisa”, diz ela.

Nos assentamentos, acampamentos, periferias dos municípios, nas entidades sindicais, uma dezena de mulheres segue sua vida, à espera do assassino, cumprindo pena forçada. É a história delas que a Pública, em parceria com o jornal Diário do Pará, conta a partir dessa semana.

publicado originalmente em Agência Pública
por Agência Pública — publicado 17/07/2013 08:40
Ismael Machado

quarta-feira, 17 de julho de 2013

EM BACABEIRA: 3 Gabinetes irão custar R$ 150 mil

Olha, não costumo compartilhar notícias desta natureza aqui em nosso Blog, mas essa entendi ser merecedora de um espaço aqui.

A Câmara Municipal de Vereadores do nosso vizinho e promissor município de Bacabeira irá gastar a bagatela de R$ 143.395,29 (cento e quarenta e três mil trezentos e noventa e cinco reais e vinte e nove centavos) com a construção de apenas 3 (três) gabinetes para os digníssimo vereadores.

Sei que não sou nenhum engenheiro nenhum expert em obras, mas entendo que o valor apontado é suficiente para construir com sobra um belo prédio.

O extrato do contrato foi publicado no Diário Oficial na data de 07.06.2013, e você pode ver abaixo o print.


Assim, diante da informação lançada, tire o leitor, e o eleitor de Bacabeira, as suas próprias conclusões.

Um bela noite de quarta feira para todos.

domingo, 14 de julho de 2013

PARADA GAY NA LITORÂNEA e a ADVOCACIA

Quem olha o título desta postagem pensa que fiquei doido e que uma coisa não tem a ver com a outra, e pode até ser, mas vale a conversa sobre o assunto.

Lembro-me que estudei Inglês em uma escola de línguas aqui de São Luís, e a minha turma não era a que mais estudava ou falava inglês, mas de longe era a que mais se divertia na sala de aula. E o mais interessante é que nos divertíamos e ainda assim, conseguíamos aprender alguma coisa.

Estudar línguas é algo muito interessante e gratificante para a alma. Digo isso por que nesse estudo você se aprofunda na cultura daquele país, vocês estuda a cultura, os costumes, o cotidiano, um pouco da história e tudo mais. E isso é que é o bacana, o mais gostoso de tudo.

Estudei somente o inglês, não me aprofundei muito, e o não praticar me deixou ainda mais esquecido de tudo, mas nada que impeça de lembrar de algumas coisinhas ainda.

Hoje pela manhã bem cedo percebi que já há uma grande movimentação na Avenida Litorânea, tudo em face da Parada Gay que está programada para hoje às 14. São organizadores e ambulantes que já se movimentam para receber o público arco-íris que irá invadir aquela avenida.

Em razão disso me veio a cabeça a aula que tive no Inglês sobre exatamente o Y. M. C. A.  (Young Men's Christian Association) que é uma associação de apoio a homens moços, que já tem presença em mais de 120 países.

Lembro ainda daquela aula que o Y. M. C. A. foi retratado em música pelo grupo de discoteca Village People, que em música homônima tratou de lançar dúvidas sobre a reputação da associação, onde em mensagem subliminar lançada na referida música, sugeriu que a associação abrigava gays, o que para idos do ano de lançamento do sucesso, 1978, foi uma verdadeira Bomba.

A música é conhecidíssima de todos, um grande sucesso mundial, e acredito que até o mais macho dos machos balança o pezinho de um lado para o outro quando a escuta, pois realmente é uma melodia bem convidativa, onde um cidadão sem muita convicção acaba se entregando. Veja abaixo o clip e fique parado se conseguir.


Mas agora o leitor vem e me pergunta, Fábio, que diabos tem a ver tudo isso com teu blog? Pois é então agora eu vou tentar fazer o gancho e veremos se há ou não relação que justifique a postagem e que salve a minha reputação de hetero.

Então, negócio é que com a música, o Village People ajudou a construir a imagem de que o Y. M. C. A. é, no bom português, coisa de gay, o que é um verdadeiro absurdo, mas que para aquela época era bem difícil de se compreender.

Razão disso, é que o Y. M. C. A. nos idos do ano de 1979 acionou judicialmente o grupo autor do sucesso, no sentido de ser indenizado pela "desconstrução" de sua imagem. O processo chegou a tramitar nas cortes americanas, mas misteriosamente, a associação pediu desistência, e o processo foi extinto sem julgamento do mérito, o que no nosso ordenamento jurídico se daria com fundamento no Art.  267, inc. VIII, do nosso tão contestado CPC, senão veja-se:

                      Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:
                      
                      Vlll - quando o autor desistir da ação;

O que se sabe é que o Y. M. C. A. expandiu-se para todas as partes do mundo, o Village People embolsou uma boa grana com o sucesso, o processo foi arquivado não se sabe por que, e comunidade gay é que saiu lucrando com tudo isso, já que ganhou mais um hino de alcance mundial.

Agora, gente, as informações que aqui lancei são daquilo que ainda consegui lembrar da aula do inglês, se há algo a ser contestado procurem meu professor, e tratem diretamente com ele, viu!!!

Tenham um ótimo domingo e uma boa Parada Gay a todos!!!

segunda-feira, 8 de julho de 2013

“Os assassinatos continuam. A gente finge não ver”

Em 'Holocausto do Brasil', jornalista reconta horror de centro manicominal em Barbacena, onde morreram 60 mil


Um campo de concentração a céu aberto. Um genocídio de 60 mil pessoas. No maior hospício do país, 7 em cada 10 pacientes não tinham problemas mentais.

As descrições de um mundo pavoroso seriam perfeitas para a ficção, não fosse um detalhe: elas fazem parte da história do Brasil. Em Barbacena (MG), a chamada Colônia, maior centro psiquiátrico do Brasil inaugurada e 1903, foi palco de atrocidades dignas de um campo de concentração nazista onde internos morriam de frio, de fome ou por doenças.

As violações, cometidas sistematicamente com o aval do Estado, são narradas no livro Holocausto Brasileiro, livro reportagem da jornalista Daniela Arbex. Lançada neste mês, a obra baseada na exímia pesquisa da repórter especial do Tribuna de Minas mostra que a maioria dos pacientes do hospício era internada à força. Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental, entre eles epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas ou mesmo pessoas que questionavam o status quoe passavam a ser considerados um incômodo para a sociedade – caso de uma jovem que contestou por que recebia de seu pai menos que seus irmãos e morreu na Colônia 30 anos depois.

A Colônia abrigava ainda meninas grávidas e violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento, pessoas tímidas e 33 crianças que tiveram parte de suas vidas roubadas durante o período em que ficaram internadas.

“A culpa é coletiva. As atrocidades não eram questionadas naquela época porque no início do século 20 existia um movimento eugenista de limpeza social muito aceito em todo o Brasil”, afirma a autora em entrevista a CartaCapital. “Ele, na verdade, existe até hoje. A sociedade ainda aceita que existam vidas valendo menos. Chacinas, que vão desde o Carandiru até a da Chatuba, no Rio, mostram que temos novos nomes para velhas formas de extermínio. Os assassinatos em massa continuam acontecendo e a gente continua fingindo que não vê.”

O livro traz um impactante relato do cotidiano vivido pelos pacientes: muitos comiam ratos, bebiam água do esgoto ou urina, dormiam sobre o capim, eram espancados ou violados. Nas noites geladas da cidade na região da Serra da Mantiqueira, eram deixados ao relento nus. Quando grávidas, as pacientes conseguiam se proteger passando fezes sobre a barriga para não serem tocadas. Mas, logo depois do parto, os bebês eram tirados de seus braços e doados. Ao menos 30 crianças foram levadas de suas mães sem autorização.

Com ajuda dos registros feitos no início dos anos 1960 pelo fotógrafo Luiz Alfredo, da revista O Cruzeiro, Daniela relembra um capítulo sem perdão da história, marcado pelas mortes também por eletrochoques, que de tantos e tão fortes chegavam a sobrecarregar a derrubar a rede do município mineiro.

Mas o que justificaria as tantas mortes, que chegavam a 16 por dia no período de maior lotação do centro psiquiátrico? Os corpos, convém lembrar, davam lucro. Entre 1969 e 1980, 1.853 corpos de pacientes foram vendidos para 17 faculdades de medicina do País. “A partir de 1960, a disponibilidade de cadáveres acabou alimentando uma macabra indústria de venda de corpos”, lembra a autora à página 76. "Os corpos dos transformados em indigentes foram negociados por cerca de 50 cruzeiros cada um. O valor atualizado, corrigido pelo Índice Geral de Preços (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas, é equivalente a 200 reais por peça. (...) Em uma década, a venda de cadáveres atingiu quase 600 mil reais, fora o valor faturado com o comércio de ossos e órgãos."

Confira os principais trechos da entrevista com a autora:

CartaCapital - Como se deu seu contato com a Colônia de Barbacena?


Daniela Arbex - Trabalho em matérias que têm denúncia e defesa dos direitos humanos, área pela qual sempre me interessei. Em 2009, entrevistei o psiquiatra e então vereador José Laerte, que hoje é secretário de Saúde de Juiz de Fora. Ele me mostrou um livro com imagens do local publicado em 2008 pelo governo do estado. Eu nunca tinha ouvido falar sobre o lugar, mas aquilo me chocou muito. As imagens remetiam a um campo de concentração. Resolvi ir atrás dessa história e mostrar quem eram seus sobreviventes.

Quando comecei a investigar o assunto, meu filho, Diego, tinha quatro meses. Passei dois anos levantando o que podia e, em 2011, quando as imagens do Luiz Alfredo completaram 50 anos, comecei a buscar quem ainda era vivo. A Colônia, hoje Centro Hospitalar de Barbacena, fica a 95 km daqui (de Belo Horizonte). No final da apuração, passei dois meses indo todos os dias para lá, onde eu chegava às 7 horas. Às 13 horas eu entrava no jornal e trabalhava até tarde. No finzinho mesmo, eu escrevia de meia-noite até 5 horas. Uma loucura!

CC - Qual a história do manicômio?

DA - O hospital foi criado em 1903 pelo governo do estado para atender os alienados, doentes mentais. Documentos de 1914 mostram superlotação, e os diretores reclamavam da falta de condições para receber os pacientes, que chegavam em vagões de trem lotados. Então, desde o início não conseguiu cumprir a função de atender e ressocializar os pacientes. Sete em cada dez não sofriam de doença mental. Podemos dizer que os pacientes eram, então, quem incomodasse aqueles com mais poder. Tudo que fugia às normas sociais se encaixava na Colônia, fossem alcoolistas, negros, pobres ou militantes políticos. Aquilo se tornou mesmo um local de segregação.

De 1903 até 1980 passaram 10 diretores por lá, alguns médicos, outros apenas administradores. Não posso dizer que todos se omitiram, mas apesar de terem comunicado o governo de Minas sobre as condições locais, as coisas não mudaram.

Quem ficou trabalhando lá, aceitou tudo aquilo. Mas houve pessoas que não queriam se desumanizar, que hoje poderiam estar aposentadas pelo estado, mas abriram mão da estabilidade porque não concordavam com os abusos. E, embora ninguém tenha apertado o gatilho, todos que trabalharam lá ou mesmo os políticos informados sobre as condições carregavam as mortes nas costas. Então, a culpa é coletiva.

CC - Pagava-se pela internação?

DA - Existia um setor das pensionistas. Quem podia pagar era a minoria, que ficava em condições um pouco melhores. Quem não podia pagar, como a maioria, era uma multidão de indigentes, revoltados sociais.

CC - Quem autorizava as internações? Médicos ou delegados?

DA - Não havia médico para autorizar. Muitas das internações eram feitas por canetas de delegados. A menina que perdia a virgindade antes do casamento, o pai mandava para lá. Até porque os médicos, ate a década de 50, eram raridades no local. Os funcionários eram contratado como guardas e aquilo era o suficiente. Se uma cozinheira podia ser transformada em enfermeira, por que contratar outros com maior qualificação? Não havia cuidado médico, e a Colônia era um depósito de gente.


CC - Na sua opinião, a que se deve o fato de as violações não terem sido questionadas ou combatidas. Era algo natural chegar a haver 16 mortos por dia no local?

DA - Não era questionado porque naquela época, no inicio século 20, existia uma teoria eugenista de limpeza social super aceita no Brasil todo. Aliás, ela existe até hoje. Ainda aceitamos que algumas vidas valem menos. E, por não serem consideradas gente, tirar aquelas pessoas da vida social não impactava, era amplamente aceito para se limpar a sociedade da escória. Essas pessoas eram a escória social. Ética não existia, por isso esses abusos se sustentaram por tanto tempo. E as pessoas que permaneciam lá foram se desumanizando.

CC - O cenário descrito por você lembra o dos presídios de hoje. Você concorda com a comparação?

DA - A sociedade ainda aceita que existam vidas que valem menos. Então, se um bandido morre, é um a menos ou merece pena de morte. É exatamente a mesma coisa. Todas essas chacinas, desde o Carandiru à Chatuba, no Rio, são novos nomes para velhas formas de extermínio. Os assassinatos em massa continuam acontecendo, e a gente continua fingindo que não vê.

Vemos o que aconteceu na Colônia e viramos a página, como fez a sociedade ao ler sobre o assunto na edição da revista O Cruzeiro de 1961. Essa cultura eugenista permanece até hoje. E o discurso da sociedade de hoje é de muito ódio e vingança.

CC - Quais as maiores atrocidades que os internos sofreram, na sua opinião?

DA - Tudo o que se passou por lá foi indigno. As pessoas entravam e tinham a humanidade confiscada. Imagina não sofrer nenhuma doença mental e ser colocado colocado em um lugar daquele, passar fome, frio, tomar eletrochoque, ficar sempre sem roupa e dormir no capim para economizar espaço nos pavilhões? Quer coisa mais indigna do que isso? Aquilo era muito desumano e cruel, um verdadeiro campo de concentração: as pessoas eram mandadas para lá para morrer, chegavam em vagões de cargas como os judeus da Segunda Guerra. Uma barbárie que remete ao Holocausto. Não perdemos milhares de judeus, mas perdemos 60 mil brasileiros.

CC - Como vivem hoje os 200 sobreviventes do lugar?

DA - É um grau muito alto de sequela. Há pessoas que ficaram ali por 50 anos e saíram para uma sociedade que mal conheciam depois de tanto tempo confinadas. Como um paciente que, depois de ter saído, perguntou a que horas as luzes da cidade se apagavam. Imagina uma pessoa descobrir já adulto o que é um interruptor de luz.

CC - De que as pessoas morriam?

DA - Morriam de fome, pneumonia, diarreia. Na época, inclusive, falava-se que diarreia era doença de doido. Alguns morriam de frio também. Muitos dormiam empilhados para se aquecer à noite. De manhã, alguns acordavam mortos por asfixia ou por frio.

CC - Há, ainda hoje, algum manicômio tão cruel quanto o Colônia?

DA - A psiquiatria brasileira evoluiu. A reforma psiquiátrica brasileira deu um salto na humanização do atendimento. Sem dúvida, é um ganho, mas os desafios ainda são muito grandes. Com os debates de hoje, como o da internação compulsória, no entanto, a gente corre o risco de retroceder. Aceitar essa institucionalização contrária à vontade do paciente não seria a reedição dos abusos sobre forma de política pública? A sociedade precisa refletir sobre esses modelos de atendimento que existem até a hoje e como podermos tomar um caminho inverso ao da Colônia. Que, em vez de segregação, a gente ofereça integração, acolhimento real.

Hoje, o que foi o hospital onde foi o Colônia tem cerca de 700 pessoas. É uma instituição que se humanizou, mas é inchada e com resquícios do passado. E minicolônias existem até hoje. Em janeiro de 2013 tivemos em Juiz de Fora o hospital psiquiátrico São Domingos, fechado por más condições: as pessoas foram encontradas nuas, com alimentação de baixíssimas qualidade, colchonetes rasgados, condições muito parecidas às descritas no livro.

As situações de violações de dignidade ainda se repetem, seja nos hospitais públicos, nos presídios ou nos centros para jovens transgressores.

Fonte:
Carta Capital
por Marsílea Gombata — publicado 04/07/2013 08:18, última modificação 04/07/2013 13:21

Parabéns Viana!!!

Nossa volta às postagens não poderia ser em dia melhor, neste dia em que a Cidade de Viana completa 256 anos de sua fundação.

Cidade que tão bem me acolheu, e onde plantei diversas amizades, de onde tiro meu sustento por meio da Advocacia, e também onde, na medida do possível, tentamos ajudar, na companhia de alguns colegas de luta, aqueles que precisam de uma mão amiga.

É com muito sabor e com muito orgulho que deixamos os nossos mais sinceros parabéns!!!! E também com os votos de que dias melhores virão!!!